A saúde mental de crianças e adolescentes é tão importante quanto a saúde física para um desenvolvimento saudável. Estudos indicam que cerca de 1 em cada 7 jovens entre 10 e 19 anos sofre de alguma perturbação mental, como depressão, ansiedade ou distúrbios de comportamento.
No entanto, muitos sinais de problemas psicológicos podem passar despercebidos ou ser atribuídos apenas a “fases” da criança, frequentemente devido à falta de conhecimento sobre o tema e ao estigma social associado. Ou seja, quando uma criança começa a ter dificuldades na escola, isolamento ou explosões de raiva, é difícil reconhecer de imediato que algo não vai bem – podendo parecer apenas parte normal do crescimento. Por isso, aumentar a conscientização sobre a saúde mental infantil e saber identificar precocemente sinais de alerta é fundamental para garantir o bem-estar psicológico dos mais novos.
Sinais de alerta na saúde mental infantil
Nem todas as oscilações emocionais indicam um problema sério – pequenas variações de humor ou dificuldades pontuais são normais no desenvolvimento. Entretanto, quando certos sintomas são persistentes, intensos e interferem no bem-estar da criança, é hora de redobrar a atenção e considerar ajuda especializada. Os pais, que conhecem melhor os filhos, estão na linha de frente para notar comportamentos ou emoções fora do habitual. Abaixo estão alguns sinais de alerta comuns que podem indicar ansiedade, depressão ou outros transtornos nos mais novos:
- Tristeza ou irritabilidade prolongada: humor depressivo contínuo, choro fácil ou explosões de raiva sem motivo aparente, que persistem por várias semanas.
- Isolamento e perda de interesse: a criança evita interações sociais, afasta-se de amigos ou perde o interesse por actividades de que antes gostava.
- Dificuldades escolares inexplicáveis: queda abrupta no desempenho ou recusa persistente em ir à escola sem uma razão pedagógica clara.
- Alterações no sono e apetite: insônia ou sono excessivo, pesadelos frequentes, perda de apetite ou comer demais, sem causa física aparente.
- Queixas físicas recorrentes: dores de cabeça, de barriga ou outros sintomas somáticos frequentes sem diagnóstico médico que os explique.
- Comportamento agressivo ou autodestructivo: actos de agressividade fora do comum, automutilação (cortes, arranhões) ou fala sobre querer desaparecer/morrer, que são sinais claros de sofrimento emocional sério.
É importante contextualizar cada comportamento na fase de desenvolvimento da criança. Por exemplo, birras são esperadas nos toddlers (crianças pequenas), mas birras extremamente intensas e frequentes ou grande regressão em habilidades podem indicar algo além do típico daquela idade. Da mesma forma, um adolescente pode naturalmente apresentar certa rebeldia, mas quando um sintoma começa a afectar várias áreas da vida da criança – familiar, escolar, social – é motivo de preocupação. Em suma, persistência, intensidade e impacto negativo no dia a dia são critérios-chave: se o comportamento ou emoção foge do padrão habitual da criança e atrapalha sua vida, merece atenção especial.
Promover um ambiente emocionalmente acolhedor
A família desempenha um papel essencial na promoção do bem-estar psicológico. Ambiente emocionalmente acolhedor significa oferecer à criança segurança para expressar o que sente, sem medo de críticas ou punições. Algumas estratégias para os pais e cuidadores incluem:
- Conversar abertamente sobre sentimentos: Reserve momentos para perguntar à criança como ela se sente e ouça com atenção, validando as suas emoções. Explique que sentir tristeza, medo ou raiva às vezes é normal, e que todos nós, em algum momento da nossa vida, passamos por momentos difíceis. Essa validação ajuda a quebrar o estigma e mostra à criança que não há problema em ter emoções negativas.
- Linguagem adequada e exemplos concretos: Use palavras simples, adequadas à idade, para nomear emoções (feliz, triste, preocupado, zangado). Histórias, brincadeiras ou desenhos podem ajudar a tornar o assunto mais compreensível. Por exemplo, pode-se dizer: “Às vezes o nosso cérebro pode ficar dói-dói, assim como o corpo fica”, ao explicar que problemas emocionais podem acontecer com qualquer um.
- Normalizar e acolher as emoções: Deixe claro que não existe sentimento “errado”. Mostre à criança que chorar ou sentir medo não a torna fraca, apenas humana. Ensine que falar sobre o que sente é algo positivo – e que os adultos estão ali para ajudar, não para julgar.
- Ensinar estratégias comportamentais: Ajude a criança a desenvolver ferramentas para lidar com emoções intensas. Técnicas simples de respiração profunda, contar até dez, apertar uma almofada ou desenhar os sentimentos podem aliviar a ansiedade no momento. Praticar essas técnicas juntos, de forma lúdica, torna mais provável que ela recorra a elas quando necessário.
- Estimular a expressão emocional saudável: Incentive a criança a expressar sentimentos de diferentes formas – conversando, desenhando, brincando de faz-de-conta ou escrevendo (no caso de mais velhos). O importante é que ela encontre canais seguros para colocar para fora o que a aflige.
- Dar o exemplo e apoiar activamente: As crianças aprendem muito observando os adultos. Portanto, demonstre também suas emoções de maneira equilibrada e mostre como as administra – por exemplo, dizendo “Hoje estou frustrado, vou respirar fundo para me acalmar”. Além disso, não minimize os sentimentos do seu filho nem o culpe por se sentir assim. Em vez disso, transmita confiança de que juntos vocês podem encontrar soluções. Elogie os esforços e as conquistas da criança, mostrando orgulho de suas qualidades - isso fortalece a autoestima dela.
Ao implementar essas acções, os pais criam um clima de confiança em casa. A criança que se sente ouvida, compreendida e amparada tende a lidar melhor com desafios emocionais. Por outro lado, quando o assunto “saúde mental” é um tabu ou motivo de reprovação, a criança pode fechar-se, esconder o sofrimento ou sentir vergonha – dificultando ainda mais que receba ajuda. Assim, cultivar desde cedo um espaço de diálogo aberto e com empatia é uma forma poderosa de prevenção em saúde mental.
Quando procurar ajuda profissional
Mesmo com todo o apoio familiar, pode haver situações em que a ajuda profissional faz-se necessária. De acordo com a Organização Mundial da Saúde, metade de todas as doenças mentais do adulto começa antes dos 14 anos, mas muitas vezes não são identificadas nem tratadas a tempo. Isso significa que intervir cedo, ainda na infância ou adolescência, pode prevenir problemas mais graves no futuro. Então, quando é o momento de buscar ajuda?
Em geral, recomenda-se procurar um profissional se a criança ou adolescente apresenta sintomas persistentes, de grande intensidade, ou qualquer indicativo de risco à sua segurança (como ideias suicidas ou automutilação). Nunca é “cedo demais” para consultar alguém; se algo no comportamento ou humor do seu filho vos preocupa de forma contínua, deverão confiar ao pediatra ou a um psicólogo infantil esse sentimento. O pediatra costuma ser um primeiro ponto de contacto – ele poderá avaliar se há necessidade de orientação a um especialista, como um psiquiatra da infância e adolescência (também chamado pedopsiquiatra).
Os pais não devem temer ou sentir vergonha de buscar apoio profissional. Lembre-se de que problemas emocionais são tratáveis, especialmente quando diagnosticados precocemente. Ao explicar à criança sobre a terapia, pode-se dizer que “existem médicos das emoções” – profissionais treinados que ajudam a entender melhor os sentimentos e fazem a pessoa sentir-se bem novamente. Se for necessário tratamento, pode incluir psicoterapia (conversar com um psicólogo regularmente) e, em alguns casos, medicação ou outras intervenções, sempre prescritas por especialistas.
O mais importante é não ignorar os sinais de que a criança não está bem. Mais de 70% dos pais relatam já ter notado comportamentos preocupantes de saúde mental em seus filhos, mas nem todos agem de imediato. Portanto, esteja atento às mudanças no comportamento ou humor do seu filho e confie nos seus instintos. Se algo lhe parece fora do normal por um período prolongado, saber buscar ajuda profissional é um acto de cuidado, não um fracasso parental. Se os problemas forem persistentes ou graves, deve-se consultar um especialista em saúde mental infantil sem hesitação.
Com uma orientação adequada – seja através de aconselhamento psicológico, terapia familiar ou outras abordagens – a criança poderá receber o suporte necessário para superar as dificuldades e desenvolver-se de forma plena e saudável.
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