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Mau Aproveitamento Escolar em Crianças e Adolescentes – Norma de Orientação Clínica

16 Dec 2025
Alimentação
Nutriçao
Obesidade
Desenvolvimento

Definições e Critérios Diagnósticos
Índice de Massa Corporal (IMC): O diagnóstico de excesso ponderal e obesidade em crianças é baseado no IMC (peso(kg)/altura²) ajustado para idade e sexo. A classificação depende da comparação do IMC com curvas de crescimento padronizadas (OMS, CDC ou IOTF).

Etiologia e Factores de Risco
O excesso de peso infantil resulta de um desequilíbrio entre ingestão calórica e gasto energético, porém as causas são multifatoriais e complexas. Em >90% dos casos, a obesidade é primária (idiopática), envolvendo combinação de fatores comportamentais e ambientais; menos de 10% têm causa secundária identificável (endócrina ou genética). Principais fatores associados incluem factores ambientais e comportamentais, socioeconômicos e familiares, genéticos, endócrinos e orgânicos, uso de fármacos e outros. Em resumo, a obesidade pediátrica geralmente resulta de interacção de factores ambientais (dieta hipercalórica, sedentarismo) com predisposição genética, agravada por determinantes sociais (condições de vida, ambiente escolar e comunitário). Em um subgrupo menor, existem causas específicas identificáveis (doenças endócrinas, síndromes genéticas ou uso de medicação). Assim, a avaliação clínica deve buscar fatores de risco modificáveis (hábitos de vida) e identificar sinais de causas secundárias tratáveis.

Comorbidades Associadas
A obesidade infantil está vinculada a diversas comorbidades que podem manifestar-se já na infância ou adolescência: metabólicas e endócrinas, cardiovasculares, respiratórias, gastrointestinais, ortopédicas, psicossociais, entre outros, sendo importante a sua identificação precoce. Muitas dessas comorbidades podem estar presentes sem sintomas, por isso é fundamental rastreá-las activamente em crianças com IMC elevado. Identificar e controlar precocemente condições como pré-diabetes, hipertensão ou problemas emocionais melhora o prognóstico e a qualidade de vida. O excesso de peso na infância tende a persistir na vida adulta (há alta probabilidade de obesos adolescentes tornarem-se adultos obesos), o que aumenta o risco de doenças cardiovasculares e mortalidade prematura no futuro. Assim, a abordagem do excesso ponderal/obesidade pediátrica visa não apenas reduzir o peso, mas também prevenir ou tratar essas comorbidades associadas.

Avaliação Clínica Inicial e Exames Complementares
A avaliação de crianças com excesso de peso/obesidade deve ser abrangente, envolvendo história clínica detalhada, exame físico direcionado e investigação laboratorial apropriada. Os objectivos são: confirmar o diagnóstico (grau de obesidade), identificar etiologias secundárias (se presentes), detectar comorbidades associadas e orientar o plano terapêutico.

A avaliação inicial do paciente pediátrico obeso deve delinear o perfil de risco e a presença de complicações. Conforme as directrizes, os componentes-chave incluem: história clínica abrangente, avaliação de saúde mental, exame físico minucioso e exames laboratoriais e de imagem necessários. Com base nesses achados, estratifica-se a gravidade da condição e planeia-se a intervenção. Importante também envolver a família já nesta etapa, discutindo hábitos de vida e percepção deles sobre o peso da criança.

Abordagem Terapêutica
O controlo do excesso de peso e obesidade em pediatria deve ser abrangente e centrado na família, com estratégias personalizadas segundo a faixa etária (pré-escolar, escolar, adolescente) e grau de obesidade. As intervenções focam nas mudanças de estilo de vida (alimentação e actividade física), apoio comportamental e psicológico, e envolvimento activo dos cuidadores. Observação expectante (“esperar para ver”) não é recomendada, pois é improvável que a criança “cresça e resolva” a obesidade sem intervenção – ao contrário, o excesso de peso tende a persistir e agravar-se.

Intervenção Nutricional (Plano Alimentar)
Objectivo: Promover uma alimentação saudável e adequada para a idade, visando balanço calórico negativo ou neutro (dependendo da necessidade de perda de peso ou manutenção para crescimento). 
Importante salientar que planos alimentares devem ser individualizados, culturalmente adequados e envolver toda a família. A criança obesa não deve fazer “dieta” isolada enquanto o restante da família mantém hábitos contrários.

Actividade Física
Objectivo: Aumentar o gasto energético e melhorar a aptidão física da criança, reduzindo comportamentos sedentários. A actividade física regular, além de auxiliar no balanço calórico, traz benefícios metabólicos, cardiovasculares e psicossociais.

A actividade física regular deve ser incentivada como parte da rotina diária da criança, assim como escovar os dentes – algo não negociável para a saúde. Ressalte-se os benefícios além do controle de peso: melhor condicionamento cardiorrespiratório, melhora do humor, do desempenho escolar e do sono, entre outros. A intervenção deve buscar transformar a relação da criança com o movimento, ajudando-a a encontrar alegria nas brincadeiras ativas e exercícios.

Abordagem Comportamental e Familiar
O componente comportamental é fundamental no tratamento da obesidade pediátrica. Envolve estratégias de modificação de hábitos, motivação, suporte psicológico e participação ativa da família e do entorno social da criança.

Em todos os momentos, o tratamento deve ser compassivo e encorajador. Mudanças de hábito são difíceis e recaídas podem ocorrer – a equipe de saúde deve ajudar a família a entender falhas como oportunidades de aprendizagem, ajustando o plano conforme necessário. Empatia e continuidade do cuidado são fundamentais para sucesso a longo prazo.

Intervenções na Escola
O ambiente escolar exerce grande influência na saúde infantil e é um campo estratégico para intervenções tanto preventivas quanto terapêuticas. Para crianças e adolescentes em acompanhamento por excesso ponderal/obesidade, recomenda-se envolver a escola em determinados contextos, nomeadamente, na Alimentação escolar saudável, na Promoção de actividade física na escola, na Capacitação de profissionais escolares, na Integração família-escola, no Suporte psicossocial no ambiente escolar. As intervenções escolares, além de auxiliem na perda de peso, têm caráter preventivo populacional. Escolas que implementam programas abrangentes de alimentação e actividade conseguem melhora nos hábitos dos alunos e até redução nas taxas de excesso ponderal ao longo do tempo. Sobretudo em crianças de 6–12 anos, a escola é um meio poderoso de instaurar hábitos saudáveis de forma equitativa, sem destacar individualmente o aluno com obesidade. A coordenação entre profissionais de saúde (pediatras, nutricionistas) e as escolas/creches maximiza o sucesso do tratamento, garantindo que a criança tenha um ambiente coerente com as orientações recebidas na clínica.

Terapêutica Farmacológica
Na pediatria, o tratamento medicamentoso da obesidade é indicado apenas para casos selecionados, em geral adolescentes com obesidade estabelecida ou grave e com dificuldade de controle somente com medidas de estilo de vida. Medicamentos antiobesidade não substituem as mudanças comportamentais, mas podem ser considerados como adjuvantes para auxiliar na perda ponderal em jovens a partir de certa idade e estágio de desenvolvimento.

Tratamento Cirúrgico (Cirurgia Bariátrica)
A cirurgia bariátrica em adolescentes é a intervenção de maior impacto no peso, porém reservada aos casos de obesidade extrema e refractária, devido aos riscos envolvidos. As directrizes internacionais (AAP, ASMBS, ESPGHAN/NASPGHAN) reconhecem que, para alguns jovens, a cirurgia metabólica pode ser apropriada e oferecer benefícios que superam os riscos, desde que criteriosamente indicada e realizada em centros especializados.

Oferece possibilidade de controle duradouro do peso e melhoria de saúde, mas acarreta mudanças permanentes no estilo de vida. A decisão deve ser individualizada, compartilhada com paciente/família, após avaliação rigorosa.

Estratégias de Prevenção
A prevenção da obesidade infantil é prioritária em nível individual e populacional. Envolve intervenções ao longo de todo o curso de vida – iniciando antes mesmo do nascimento - e acções integradas de múltiplos sectores (saúde, educação, comunidade, políticas públicas). Recomenda-se uma abordagem multicomponente e evolutiva, com Intervenções educativas e de acompanhamento desde a gestação e primeira infância até à adolescência, promoção de um Ambiente familiar saudável, e Intervenções na comunidade e nas políticas públicas (âmbito populacional).

As estratégias preventivas devem ser contínuas e coordenadas. Está bem estabelecido que prevenir é mais eficaz e menos oneroso que tratar a obesidade instalada. Investir na prevenção desde cedo – nos primeiros 5 anos de vida especialmente – colhe frutos ao evitar que crianças entrem na vida adulta com obesidade e múltiplos fatores de risco. A OMS enfatiza intervenções em todos os estágios do ciclo de vida: da promoção de peso saudável na gestação, passando pelo incentivo ao aleitamento e práticas adequadas na infância, até manter estilos de vida ativos na adolescência e vida adulta jovem.

Em conclusão, o combate à obesidade infantil requer uma abordagem integrada: famílias que adoptam hábitos saudáveis, escolas que promovem a nutrição e a actividade, sistemas de saúde que actuam na orientação e monitorização, e políticas públicas que facilitem escolhas saudáveis como padrão para todas as crianças. Sómente com esforços multissectoriais e apoio contínuo poderemos reverter a tendência de aumento da obesidade e garantir que as próximas gerações alcancem o seu pleno potencial de saúde e bem-estar.

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