A carregar página
Saltar para o conteúdo principal da página

Cada criança no seu tempo: marcos do desenvolvimento e quando se preocupar

18 Dec 2025
Desenvolvimento

Os marcos de desenvolvimento são habilidades típicas que a maioria das crianças atinge por determinadas idades – porém, cada criança é um indivíduo único e pequenas variações de ritmo são perfeitamente normais. 

Há bebés que caminham com 10 meses e outros apenas aos 15 meses; há crianças que falam frases completas aos 2 anos e outras que, nessa idade, dizem apenas palavras soltas. Em geral, não devemos comparar obsessivamente os nossos filhos com os filhos dos outros, mas sim acompanhar o progresso individual de cada um. Dito isto, existem sinais de alerta específicos que indicam possível atraso no desenvolvimento e que merecem avaliação profissional, caso ocorram.

Em termos de desenvolvimento motor, espera-se que o bebé vá adquirindo controlo postural ao longo do primeiro ano: por volta dos 3–4 meses já sustenta a cabecinha, aos 6 meses geralmente rebola ou senta-se com apoio, e entre os 9–12 meses muitos começam a gatinhar e a pôr-se de pé com apoio. Andar costuma ocorrer entre os 12 e os 15 meses – mas até 18 meses ainda é considerado dentro do normal. Se um bebé com 18 meses ainda não consegue andar sem apoio, convém discutir com o pediatra; ultrapassar esse limite pode ser um sinal de atraso motor que justifique intervenção (por exemplo, fisioterapia). Já quanto à coordenação fina, espera-se que por volta de 1 ano o bebé pegue objectos com o polegar e indicador (movimento de pinça), e aos 2 anos consiga empilhar alguns bloquinhos ou rabiscar com lápis grosso.

Na área da linguagem e comunicação, os primeiros balbucios surgem por volta dos 6–9 meses (“bababa”, “dadada”). Por volta de 1 ano muitos bebés já dizem uma ou duas palavras com significado (geralmente “mamã”, “papá”) e sabem apontar para pedir algo. Aos 2 anos, espera-se um vocabulário de pelo menos 50 palavras e que comecem a juntar duas palavras em frases simples (“quer água”). Aqui um importante sinal de alerta é não balbuciar nenhum som até aos 12 meses ou não dizer nenhuma palavra até cerca de 18 meses. Um bebé de 1 ano que não vocaliza sons ou não reage a chamamentos pode ter algum problema auditivo ou de desenvolvimento da fala – vale a pena avaliá-lo. Da mesma forma, se com 2 anos completos a criança ainda não diz nenhuma palavra, isso não é apenas “preguiça de falar”, mas é um critério claro para procurar ajuda (possível atraso de linguagem ou perturbação da comunicação). A boa notícia é que, identificados precocemente, os atrasos de fala podem ser bastante mitigados com terapia da fala e estimulação adequada.

No desenvolvimento social e cognitivo, logo nos primeiros meses vemos marcos como o sorriso social (por volta de 2 meses o bebé começa a sorrir ao interagir com os pais). Por volta dos 6–9 meses, o bebé faz contacto visual, reage ao próprio nome e manifesta preferências (por exemplo, estranha pessoas desconhecidas – a chamada “ansiedade do estranho”). Se um bebé nunca faz contacto visual ou não responde de forma alguma aos cuidadores, pode ser indicativo de algum transtorno (por exemplo, perturbação do espetro autista) e deve ser investigado. A partir de 1 ano, os pequeninos começam a exibir brincadeiras simples de imitação (dar comida à boneca, falar ao telefone de brincar). Entre 2 e 3 anos inicia-se o “faz-de-conta” e a interação com outras crianças (ainda que muitas vezes brinquem em paralelo e não realmente juntos). Em idade pré-escolar (3–5 anos), desenvolvem-se rapidamente as habilidades de conversação, imaginação e competências sociais básicas (partilhar brinquedos, seguir regras simples de jogo).

É fundamental reforçar que variações individuais existem – nem todas as crianças seguem o “manual” rigidamente. Pequenos atrasos isolados (por exemplo, só andar aos 16–17 meses, ou falar menos até aos 2 anos mas entender bem ordens) podem encaixar-se dentro do normal de cada criança. O importante é olhar o contexto geral: a criança progride mês a mês, mesmo que num aspecto vá mais devagar? Está ganhando novas capacidades com estímulo e tempo? Se sim, geralmente não há motivo para alarme imediato. Porém, certos sinais persistentes não devem ser ignorados, pois a intervenção precoce faz toda a diferença. Alguns exemplos de alertas que justificam avaliação médica/psicológica:

  • Bebé de 6–9 meses que não reage a sons ou não balbucia – pode indicar perda auditiva ou atraso de comunicação.
  • Bebé com 12 meses que nunca estabelece contacto visual, não sorri ou não mostra interesse em interagir – pode ser sinal de perturbação do neurodesenvolvimento (como autismo) e requer avaliação.
  • Criança de 18 meses que não anda ou não se põe de pé com apoio – atraso motor a investigar.
  • Criança de 2 anos que não diz nenhuma palavra ou não comunica de forma alguma (nem aponta ou gesticula) – forte indício de atraso significativo de linguagem.
  • Criança de 3–4 anos que não forma frases simples ou cuja fala é ininteligível – atraso de linguagem/fala que beneficia de terapia.
  • Falta de interacção social nas idades em que já era esperada: por ex., criança de 3–4 anos que não brinca de todo com outras ou não apresenta jogo simbólico pode merecer observação profissional.
  • Perda de habilidades já adquiridas (regressão) em qualquer idade – ex.: criança de 2 anos que falava algumas palavras e deixa de falar completamente – esse retrocesso é sempre sinal de alerta.

Ao notar qualquer destes sinais, os pais devem conversar com o pediatra. O médico poderá realizar rastreios do desenvolvimento e, se necessário, encaminhar para especialistas (neuropediatra, pedopsiquiatra, terapeutas da fala, etc.). Detectar atrasos reais o quanto antes é crucial, pois a plasticidade cerebral nos primeiros anos é enorme – intervenções nessa fase potencializam os progressos da criança. Com apoio adequado, muitas dificuldades podem ser superadas ou atenuadas, permitindo à criança alcançar o seu potencial máximo de desenvolvimento. Esse apoio pode incluir programas de intervenção precoce (em Portugal existe o SNIPI – Sistema Nacional de Intervenção Precoce na Infância), com equipas multidisciplinares que orientam a estimulação em casa e na creche/escola. Terapias especializadas, como fisioterapia motora, terapia da fala, terapia ocupacional ou apoio pedagógico, fazem uma diferença enorme quando iniciadas cedo.

Em resumo: acompanhe os marcos do seu filho com interesse, mas sem angústia. Use as consultas de rotina para tirar dúvidas sobre o desenvolvimento. Se algo preocupa, confie no instinto e procure orientação – muitas vezes “é de cada criança” e nada precisa ser feito além de esperar e vigiar. Mas se houver mesmo um atraso, intervir logo é a melhor decisão. Cada criança tem o seu tempo, e com amor, estímulo e – quando necessário – ajuda profissional, todas podem desabrochar e vencer os desafios do desenvolvimento.

Recentes

Tosse e Dificuldade Respiratória em Pediatria

Observar sintomas, manter ambiente seguro e procurar avaliação médica rápida é crucial para prevenir complicações e proteger a saúde respiratória das crianças

Febre infantil: quando se preocupar e como agir

Monitorizar os sintomas, garantir hidratação e procurar orientação médica quando necessário ajuda a cuidar da saúde da criança com segurança