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Bullying e cyberbullying: protegendo a autoestima dos jovens

18 Dec 2025
Desenvolvimento
Cyberbullying
Bullying

Bullying é o nome dado às agressões intencionais e repetidas (físicas ou psicológicas) entre jovens em contexto escolar ou social, em que há um desequilíbrio de poder (um aluno mais forte ou popular contra outro mais frágil, por exemplo). Já o cyberbullying é a vertente online desse fenómeno – insultos, humilhações ou perseguições através da internet, redes sociais, mensagens, etc. 

Ambos podem ter um impacto profundo na saúde mental e emocional das vítimas. Uma criança ou adolescente alvo de bullying costuma apresentar sinais de sofrimento: queda no rendimento escolar, isolamento dos colegas, queixas somáticas (dores de cabeça, barriga) sem causa médica aparente, irritabilidade ou tristeza persistente, baixa autoestima e insegurança evidentes. Não raramente, recusa ir à escola ou inventa desculpas frequentes para faltar, pelo medo do tormento que a espera lá. Em casos mais graves, podem surgir sintomas de ansiedade acentuada, depressão e até pensamentos autolesivos.

Para os pais, pode ser difícil descobrir o que se passa – muitas vezes o jovem esconde por vergonha ou medo de retaliação. Por isso, é importante estar atento a mudanças de comportamento e criar um ambiente de diálogo aberto em casa. Se suspeitar que algo não vai bem (por exemplo, o filho anda continuamente cabisbaixo, ou chega a casa com materiais estragados ou pequenos ferimentos sem explicação convincente), potencie a comunicação: encontre momentos calmos para perguntar como ele está, como foi o dia, e oiça de verdade as respostas. Às vezes, perguntar directamente “Alguém te anda a chatear na escola?” pode ajudar a abrir o assunto – se notar hesitação, reforce que podem contar-lhe tudo, sem julgamento. Caso a criança tenha dificuldade em expressar-se falando, uma ideia é propor que escreva uma história ou desenhe o que está a sentir, como porta de entrada para a conversa. O mais importante é acolher o que o jovem relatar com calma e empatia: jamais minimizar (“isso são coisas de miúdos”, “aguenta que passa”) ou culpabilizar (“também deves ter feito algo”). Em vez disso, agradeça por confiar em si, deixe claro que ele não tem culpa de estar a ser vítima e que juntos vão encontrar uma solução. Elogie a coragem de ter contado – muitas crianças sofrem em silêncio, portanto falar já é um passo enorme.

Uma vez conhecido o problema, é fundamental envolver a escola o quanto antes. Marque uma reunião com o diretor de turma, professor ou coordenador pedagógico, leve os factos e (se possível) evidências do bullying, e exija um plano de acção. As escolas têm o dever de zelar pelo bem-estar dos alunos; muitas já possuem programas anti-bullying e protocolos para estes casos. Isso pode incluir conversas educativas com a turma, intervenção do psicólogo escolar, medidas disciplinares para o agressor conforme a gravidade (lembrando que o objectivo não é “vingança”, mas cessar o comportamento agressivo). Nunca confronte directamente o agressor ou os pais dele em clima de hostilidade, pois pode agravar a situação – deixe a mediação para a escola ou profissionais. Entretanto, acompanhe de perto as medidas tomadas e os efeitos: mantenha contacto frequente com seu filho para saber se as agressões cessaram de facto, e com os responsáveis escolares para monitorizar o caso. Em paralelo, continue a fortalecer a vítima emocionalmente em casa: reforce as suas qualidades, incentive amizades positivas (por vezes mudar o filho de turma ou escola pode ser considerado, se o ambiente estiver irremediavelmente tóxico). Em alguns casos, apoio psicológico individual para a criança/adolescente é muito benéfico – um psicólogo pode ajudá-la a resgatar a autoestima ferida, treinar habilidades sociais e lidar com traumas decorrentes do bullying.

No que toca ao cyberbullying, os desafios ganham novos contornos. As agressões virtuais podem ocorrer 24h por dia (os bullies perseguem a vítima no telemóvel e computador, para lá do portão da escola) e atingir grandes audiências – uma foto humilhante ou um boato maldoso pode espalhar-se rápidamente online. Além disso, no mundo digital muitas vezes o agressor age anonimamente ou à distância, o que facilita comportamentos cruéis (a falta de contacto cara a cara reduz a empatia de quem agride). Qualquer criança conectada pode ser vítima de cyberbullying, mesmo sem nunca ter tido conflitos presenciais com o agressor. E as consequências são tão graves quanto no bullying físico – isolamento, ansiedade, depressão – com a agravante de que conteúdos online são difíceis de apagar e a exposição pode ser enorme. Por isso, os pais devem estar particularmente vigilantes à vida digital dos filhos. Supervisão parental não é invasão de privacidade, é protecção: para crianças mais novas, defina limites de tempo e quais as apps que podem usar; tenha acesso (conhecendo senhas ou estando “amigo”/seguidor) às redes que usam; instale ferramentas de controlo se necessário. Mais importante ainda, eduque para a cidadania digital: converse sobre o que são comportamentos aceitáveis ou não online, oriente sobre não partilhar informações pessoais ou fotos íntimas, e sobre não responder a provocações de haters na Internet. Ensine-os a serem também gentis online – isto é, não propagar rumores, não comentar maldosamente sobre colegas nas redes (qualquer um pode inadvertidamente tornar-se bully se entrar na onda de ridicularizar outro). Mostre que na Internet valem as mesmas regras de respeito que as da vida real.

Se identificar que o seu filho é vítima de cyberbullying, documente as evidências (guardar screenshots de mensagens, posts ou emails ofensivos) e denuncie. As plataformas de redes sociais geralmente permitem reportar abusos e bloquear utilizadores. Dependendo da gravidade (por ex., ameaças graves, incitação ao suicídio, partilha de fotos comprometedoras sem consentimento), não hesite em envolver as autoridades – em Portugal, a Polícia tem unidades especializadas em crimes cibernéticos e há a Linha Internet Segura (800 219 090) onde pode obter aconselhamento. Lembre o seu filho de que não está sozinho: muitos jovens passam pelo mesmo, existem linhas de ajuda e profissionais prontos a apoiar. Por exemplo, a Linha SOS Criança (116 111) ou a Linha de Apoio à Vítima da APAV (116 006) podem orientar vítimas de bullying e cyberbullying. Psicólogos escolares também podem ajudar – sugerir grupos de apoio ou mediando conversas restaurativas entre os envolvidos, se apropriado.

Este trabalho de combate ao bullying exige união entre família, escola e comunidade. Promova em casa valores de respeito às diferenças, empatia e coragem para denunciar injustiças. Envolva-se nas iniciativas da escola (palestras, campanhas anti-bullying, etc.). Ensine o seu filho que, se ele próprio vir um colega a ser vítima de bullying, deve não ficar calado – pode ser amigo daquela vítima, recusar participar ou pedir ajuda a um adulto. Criar uma cultura de não-tolerância ao bullying é responsabilidade de todos.

Por fim, cultive a autoestima do seu filho fora do ambiente de conflito: incentive actividades em que ele seja bom (arte, música, desporto, voluntariado), onde possa conviver com outros jovens e sentir-se valorizado. Uma autoestima forte é um “escudo” contra as ofensas – não as impede, mas ajuda a resiliência. Mostre-lhe histórias de superação: muitos adultos bem-sucedidos já foram vítimas de bullying e conseguiram superar (há inclusive livros e campanhas com esses relatos). Reforce sempre que ninguém merece ser maltratado e que pedir ajuda não é fraqueza, é acto de coragem. Com apoio e amor, os jovens podem recuperar-se do bullying e seguir em frente mais fortes. E quanto aos agressores, muitas vezes eles próprios precisam de orientação psicológica – crianças felizes e emocionalmente saudáveis não sentem necessidade de oprimir outras. Combater o bullying passa também por entender e trabalhar as causas no agressor, cortando o mal pela raiz. Em suma, não deixar nenhuma criança sofrer em silêncio – essa é a mensagem chave. Juntos, pais, professores e alunos, podemos construir ambientes mais seguros e empáticos, onde prevaleça a máxima: “Trata os outros como gostarias de ser tratado.”

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